sexta-feira, 21 de maio de 2010

PARECE ATÉ O BRASIL!

Uma vida de privações e esperança
(Adaptado de Fábio Juppa, caderno dos Esportes, Jornal "O Globo", 02/05/2010)


Em letras garrafais, perguntam: "Quem pode conter a África?". Em Gana, o triunfo de ex-meninos pobres como Essien, do Chelsea, e Sulley Muntari, do Inter de Milão, tem sido responsável por um incrível surto de academias de futebol.
_ Nossa prioridade aqui é a educação - antecipa-se Sam Arday. _ Futebol vem depois.
Sam já é um senhor de 65 anos. Como técnico, foi campeão do mundo e africano sub-17, e bronze nos Jogos de Barcelona (1992), primeira medalha olímpica do continente. Atualmente, é diretor da academia do Feyenoord, tida como modelo de investimento.

Saindo da via principal que leva à Região Central, são quinze minutos numa estrada secundária e mais dez noutra de terra para se chegar na enorme propriedade encravada numa região extremamente seca. O sol forte amareleceu a vegetação, mas a grama está bem cuidada. O Feyenoord conta com a parceria de uma empresa de agricultura holandesa-ganesa especializada na importação e exportação de insumos.
Sessenta e quatro meninos entre 10 e 18 anos vivem na academia em regime de internato. A rotina desmente Sam. O futebol é sempre a primeira e última lição do dia. Para driblar o calor, os treinos começam às 6:30h e há um segundo período à tarde. As aulas, de matemática, inglês, estudos sociais e computação, acontecem entre 9:30h e 12:30h. Além de ganeses, há crianças e adolescentes do Niger, Burkina Faso, Costa do Marfim e Mali. Ninguém pagou para estar ali. Todos foram selecionados por olheiros em festivais escolares ou ligas amadoras locais.

A estimativa atual é de que existam quase 500 academias em Acra. Todas se definem como programas de facilidades e treinamento, mas entre elas, há diferenças. Há aquelas de clubes locais; as formadas em parceria com clubes europeus; as particulares, viabilizadas com dinheiro privado; e por último, as improvisadas ou ilegais, que oferecem serviços e estrutura de baixa qualidade, pólos em potencial do tráfico de meninos.